terça-feira, março 22, 2005

Ai como eu gostava de ser homem

Isso ou ter 80 anos.
Invejo as mulheres que fizeram vinte anos durante a primeira metade do século passado.
Viviam com os pais até casarem, não precisavam de estudar e portanto a juventude era gasta em... em quê? O que é que faziam? Não tinham de acordar cedo, bordavam o enxoval, liam romancezinhos (com a vantagem de que naquela altura a Margarida Rebelo Pinto não escrevia), não tinham de sair de casa em dias de chuva... (claro que algumas trabalhavam, mas a maioria não) , não faziam a depilação e o banho era semanal e só usavam sabão. Na pior das hipóteses um champô.
Depois casavam e apenas lhes era exigido que tivessem as refeições prontas à hora a que o marido chegava, a roupa tratada e a casa limpa e arrumada.
E ali ficavam o dia inteiro à espera dos respectivos homens, ocupando os tempos mortos com mais romancezinhos.
Nunca conheceram o stress.
Hoje, somos todas independentes e polivalentes.
Decidimos que queremos ser iguais a eles e passamos a juventude a queimar pestanas.
Quando chega a idade de casar ainda andamos a esfalfar-nos para construir uma carreira.
Esquecemo-nos que para podermos superar os homens temos de nos mostrar 3 vezes melhores que eles. Não basta ser igual, é preciso ser melhor. Muito melhor.
Hoje é-nos exigido ser e estar fantásticas 48h por dia. (os nossos dias têm o dobro do dos homens). Sempre.
Profissionais fantásticas (horas e horas de trabalho e formações complementares) , donas-de-casa fantásticas (tudo sempre limpo e arrumado mesmo que tenhamos outras ocupações) , mulheres fantásticas, sem gordurinhas nem celulite (o que no obriga a ir para ginásios, como se o nosso tempo não estivesse já demasiado ocupado) , sem olheiras (rios de dinheiro em produtos) , e sempre impecavelmente maquilhadas, de cabelo luminoso e penteado (acordar duas horas antes para ter tempo). E sempre felizes e satisfeitas sem uma mostra de cansaço. E no fim de um dia tão fantástico ainda temos de estar fantásticas para uma noitada de copos para não sermos anti-sociais.
O banho é diário e o champô o adequado ao cabelo. E então aparecem estas variedades todas... cabelos lisos, caracóis, remoinhos, cabelos secos, cabelos com pontas oleosas e raizes secas, raizes oleosas e pontas secas, caracóis assim assim... e a mulher, fantástica que é, tem de tirar mais um curso antes de poder escolher o seu champô, enquanto o homem pega no da promoção e tá feito porque não há para eles esta variedade absurda. Até nisso eles têm a vida facilitada!
Mais... os homens podem ser uns filhos da mãe, uns cabrões de primeira que isso é-lhes permitido e até, em certos casos, louvado. Já a mulher, coitada, tem de ser sempre digna e fiel e nada de andar a dormir por aí como um homem sob pena de ser rapidamente apelidade de... mulher da vida. E se encorna algum, que por acaso até pode ser um grande filho da puta e merecer é o ai Jesus nos acuda, que puta e que velhaca... é verdade que ele tem outras mas ele é homem!
Ai que feliz estou eu por ser uma mulher do século XXI!!!