É verdade, querido diário, e nem imaginas o que foram estes últimos dias...
Saí na quinta-feira de manhã para comprar pão. Eu e os meus óculos de sol.
De repente pára um carro vermelho à minha frente em grande chiadeira e saem de lá dois homenzarrões com capuzes que me agarram e me atiram lá para dentro.
Saímos disparados em alta velocidade por estes montes e vales que circundam Alguidares de Baixo e a páginas tantas desato eu a vomitar, que sempre tive o estômago frágil e curvas e contra-curvas a 200 km/h nunca me fizeram muito bem.
Eles desfiam todos os palavrões que conhecem e um deles, mais sensível, começa aos vómitos também. Paramos e eu agradeço ao Sinhor que já tinha a bexiga apertadinha.
No meio daquela confusão toda os meus óculos tinham caído e é então que se aprecebem que eu não sou a artista que eles procuravam. Mais palavrões. E desculpas, muitas. Desculpe menina, que nos enganámos e ai a minha vidinha que o chefe vai-se passar...
Lá faço o que tenho a fazer e eles perguntam se tenho papel. Digo que não, que perdi os lencinhos e eles oferecem-me toalhetes cheirosos e um vomidrine, que vão levar-me de volta e não querem mais porcaria.
Perante tamanha amabilidade peço-lhes que me levem para onde me levavam, que me atem os pulsos para terem a certeza que não fujo e prometo em troca fingir que sou a tal artista cuja família vai pagar o resgate.
Acabei por ficar lá com eles até hoje, divertidíssima, com piropos para trás e para a frente (eles já não viam uma mulher há muito tempo...) e ainda consegui evangelizá-los e desviá-los do caminho do crime.
Uma bela Páscoa, foi o que foi.