terça-feira, junho 21, 2005

A verdade verdadinha é que estou estoirada

e tudo porque no Domingo fui à praia!
Fiquei cansada de ver o sofrimento das famílias que lá estavam... São verdadeiros heróis que se levantam às seis da manhã para poder estar ao sol às 11...
O dia começa de madrugada ainda, porque há que fritar o carapau e o pastel de bacalhau e fazer o arroz de tomate que estas coisas só sabem bem se forem feitas no dia!
Depois começa a tortura de arrumar os sacos e saquinhos e concerteza que fazem várias viagens casa-carro antes de partir...
Chegam à praia por volta das 8/9 e começam a montar a tenda (autênticas tendas de campismo), o pára-vento (alguns têm dois: um de cada lado da tenda e fazem uma espécie de quintal), o guarda-sol, a mesa e as cadeiras... alguns trazem mesas já com cadeiras que é para facilitar. Outros trazem cadeiras e bancos para os pés que o conforte é tudo e se fosse para estar mal sentado, não tinha vindo para a praia! Olaró!

Tudo montadinho, toca a estender a manta para fazer de alcatifa que compraram a tenda para alguma coisa e não pode haver nem um grãozinho de areia lá dentro que o pai tem de dormir a sesta bem confortável!
O pai tem bigode farto, a mãe celulite, um fato de banho preto, uma mola na cabeça e uma voz esganiçada. A filha aos oito anos já tem um buço semelhante ao do pai e usa bikini mas por falta de conteúdo, o soutien sobe perigosamente ao pesoço e faz as vezes de um colar. O filho, normalmente Rúben, apanha da mãe a toda a hora e tem medo da água. Por isso mesmo, o pai passa o dia a dizer "olha que te boto àiágua", alternando com um "Rúben António, olha que tu apanhas!", pela voz esganiçada da mãe.
Tenda montada, inicia-se a preparação do almoço... farto, claro! A mãe estende a toalhita de mesa (claro, que esta gente não brinca em serviço), põe os pratos, saca do Frissumo-para o pai é cerveja- da geladeira nº1 (trazem no mínimo duas), do peixe frito e do arroz de tomate, e rematam com um melão.
Findo o repasto, o pai deita-se na tenda, mesmo ao meio, e a mãe fica cá fora, com a cabeça debaixo do guarda-sol ou se o pai fo demasiado gordo e precisar do guarda-sol para tapar a unha do dedo grande do pé, a mãe rouba um dos chapéus da Fatinha (que traz sempre vários) e põe na cabeça. Não convém adormecer que tem de impôr respeito:
"Oh Fatinha vem para a sombra! Rúben, sia do sol! Teimosos! Os dois para a minha frente! Olha que o teu pai bota-te àiágua! Tu apanhas! Vais apanhar! Não deites areia para cima da tua irmã! Larga o teu irmã! Vocês nunca mais vêm à praia!"

Uff!
E nisto se passam as horas...
A Fatinha molha os pés e muda de bikini...e novamente corre o risco de se enforcar no soutien... o Rúben Alexandre apanha mais dois ou três tabefes, o pai e a mãe não falam.
À hora do lanche volta o melão, a toalhita, a bejeca do pai, o Frissumo das crianças e estão duas geladeiras vazias. Sacode-se a toalha, tira-se a areia da manta, o pai dorme, a mãe grita e por fim dá descanso às cordas vocais e sai para o sol.

Às 6 começam a arrumar porque têm de estar de volta a casa às 8 e o caminho é longo.
Chegam a casa, tomam banho, juram para nunca mais e podem dizer aos colegas que já fizeram praia este ano e tal como nos anteriores, não gostaram: enquanto tiverem filhos nem pensar que eles não dão valor a isto.