terça-feira, janeiro 10, 2006

Querido Diário- um post sério que nem só de gargalhadas vive uma mulher

Estou num grande dilema e com um nó na cabeça de tal modo grande e confuso que não lhe encontro sequer a ponta para ver se o começo a desenlear.
Sinto-me num daqueles filmes de 5ª categoria. Daqueles em que o personagem principal, perante uma crise, se vê confrontado com dois bonequinhos, um em cada ombro: o anjinho e o diabinho.
Vamos lá a ver se vomitando tudo isto a coisa melhora ou começa a fazer algum sentido.
Estou triste. Isso é um facto que damos já como assente e quanto ao qual não há mais discussão. E pronto. Pelo menos há uma certeza o que já é um avanço.
Depois de um ano sem princípios e sem preocupações algumas, eis que se me assola uma crise de consciência que me tira o sono e o apetite e me deixa afogada em valores e pudores e pruridos como se de uma donzela me tratasse. Curioso é notar que estes problemas de consciência são meramente parciais e subjectivos, se é que assim se pode dizer para contrapor a gerais e abstractos. Ou seja estes dois seres irritantes que há semanas não largam o meu ombro aparecem apenas e só perante uma determinada situação, perante determinada parte da minha vida sendo certo que têm tido, durante os mesmos dias que me têm visitado, a possibilidade de darem o ar da sua graça em situações idênticas. Mas calam-se. Fazem-se de mortos mesmo! E de verdade que começam a irritar-me.
A questão que se coloca é devo ou não comer o bolo de chocolate que tenho na cozinha?
Um deles diz-me: carpe diem. Aproveita a vida. Vive cada dia como se fosse o último porque pode bem ser.
O outro logo contrapõe: mas pode não ser e tens de pensar como vais viver depois, todos os outros dias da tua vida. E se guardasses o carpe diem para outro diem qualquer que isto é tipo cartão de descontos e nunca se sabe quando vais precisar de encher o depósito e não vale a pena estares a gastar um vale de €0,5/litro se só vais meter €10. E depois arrependes-te... e vais dar com a cabeça na parede... e dizer que não devias... e se pudesses voltar atrás...
Volta o primeiro: Mais vale arrependeres-te do que fazes do que daquilo que não fazes. Vais arrepender-te de qualquer maneira, mais vale teres aproveitado e enchido a barriga (salvo seja abrenúncio). E já andas a dar com a cabeça na parede, qual é a diferença? Se é para doer e é... pelo menos que te rias por um bocadinho.
E logo replica o segundo: dá-te valor. Só estás triste porque queres. Tens é de ficar muito orgulhosa de ti. És uma mulher com princípios e isso é raro.
Porra! Calem-se os dois!
Às vezes estou com o primeiro. De que me adiantam a merda dos princípios se ando triste na mesma? Ai que felizes são as meninas honradas e virtuosas! BALELAS! Meninas desenxabidas sem cor nem alegria nas suas vidas que sabem o que vem nos livros e já é demais! Quererei eu ser assim? E aos 50 anos olho para trás e penso o quê? Que linda figura que tenho! Tudo graças ao meu sacrifício e às minhas virtudes: nem um grama a mais, nem uma colicazinha a vida toda mas também não sei a que sabe o bolo de chocolate.
Porque terei eu medo de ficar com caganeira por comer o bolo de chocolate que está aqui mesmo à minha frente? E se tiver caganeira? Nada que não se resolva com um UL qualquer coisa. E pelo menos pude saborear aquela cobertura.
O problema é que, gulosa como sou, tenho medo de não me ficar pela primeira fatia. E eu sei que o bolo não é meu e que não vai durar eternamente. E pode acontecer que o bolo se estrague logo após a primeira fatia e que já não o possa comer mais. Ou que a caganeira seja de tal modo grave que demore muito tempo a passar. E o certo é que ainda tenho presente o útlimo desarranjo intestinal...
Mas por outro lado também pode acontecer que, logo depois da primeira garfada, eu me aperceba que o chocolate afinal é dos trezentos e sabe a sabão e sou eu quem não quer sequer acabar a 1ª fatia.
E enquanto não o provar, vou ficar a pensar nele, a imaginar o sabor, a vê-lo, porque está aqui mesmo na minha cozinha... e não vou sequer conseguir concentrar-me no bolo de ananás ou no de amêndoa que também andam aqui por casa e perante os quais os cabrões dos bonecos entram em coma profundo.
Ai merda!
Que faço?
Por que não nasci eu homem? Como odeio ser mulher!!!