quarta-feira, abril 18, 2007

Amor para sempre ou o conforto da rotina?

Tudo começa com o cheiro. A memória olfativa é lixada.
Um cheiro que nos leva para um tempo bom, cheio de recordações agradáveis, e que nos traz um calorzinho familiar ao coração.
É que é mesmo lixada, que a puta da memória olfativa, a mais potente segundo dizem, costuma ser selectiva ainda por cima.
A seguir, assim como quem não quer a coisa, vem um olhar, depois um ligeiro toque e finalmente, sem qualquer anúncio, o beijo.
E é a loucura.
Dois corpos que se conhecem milimetricamente e se encontram e encaixam na perfeição mesmo no escuro dos escuros.
Um ombro que parece que foi feito à media de uma determinada cabeça, um tronco que com 10 kgs a mais ou a menos cabe sempre dentro do mesmo (a)braço, uma mão cujo toque inconfundível sabe já perfeitamente onde passar. E a pele que reage como se dissesse à mão, a vivia voz, "tinha saudades tuas".
E é todo um conjunto de sinais e pequenos gestos que formam um código que se foi construindo ao longo dos anos (quando foi mesmo?) e que dispensa qualquer palavra. Mesmo quando se passaram meses ou até anos sem trocar, de facto, uma única palavra.
Cumplicidade dizem uns, rotina acusam outros. Confortável, sem dúvida.
E então tudo recomeça e suponho que seja esta a razão por que certas pessoas não conseguem sair das nossas vidas (ou nós não as conseguimos tirar de lá onde elas estão)...
Será?
Eu, no entanto, que sou uma mulher moderna, independente e emancipada, acho que o amor para sempre foi uma invenção de escritores frustrados que decidiram iludir criancinhas indefesas com tretas de príncipes encantados e sapos e mais não sei o quê e que mais tarde inspiraram argumentistas e assim nasceram a Globo e Hollywood.
E apesar de tudo, continuo a preferir a adrenalina da novidade, do desconhecido, do primeiro toque, do primeiro encontro, do primeiro beijo.
Mas que sabe bem de vez em quando sentir o conforto do conhecido, lá isso sabe.
E talvez não seja mal pensado viver assim a vida toda: o regresso à rotina de vez em quando... para quebrar a rotina :)

And the biggest of my many many Mr. Bigs (yes, there's more than one) is back... once again. Is he?