domingo, janeiro 30, 2005

Querido Diário

O que é suposto fazer ou sentir quando sem querer nem andar à procura, descubro mais e mais e muitos mais podres e mentiras que me passaram totalmente despercebidos?
Como devo reagir ao descobrir que durante um ano partilhei a minha vida com alguém que exigiu sempre tudo sem nunca estar satisfeito, que me fez acreditar que não era merecedora de tamanho amor e dedicação e que me mentiu desde sempre com quantos dentes tinha?
Que ainda teve a coragem de se assegurar que não me partilharia com ninguém, na esperança que assim eu me tornaria finalmente dependente dele? (cagou-lhe o cão no caminho que nem assim consegiu)
E pensar que me forcei a abrir-me com quem representou um papel...
Como é que eu posso confiar em alguém outra vez?
O que é que se faz nestas situações?
Tenho várias hipóteses:
Uma: enlouqueço porque começo a perguntar-me se aqui e ali aquilo que dizia era verdade ou mentira também. E quantas mais vezes me mentiu e a que propósito?

Duas: fico em casa o dia todo a vomitar, tamanho é o nojo...

Três: vou para o deserto que ao menos ali ninguém me aborrece.

Quatro: procuro mulheres... mas elas também podem ser muito falsas...

Cinco: entro para um convento e procuro apoio divino.

Ou seis: cago na cena, viro a página e tento nunca mais lembrar-me que semelhante criatura existe e que é apenas uma excepção... e que ao menos eu sou uma pessoa de bem e séria.

É nestas alturas de reflexão que me lembro das virtualidades da prisão perpétua ou do internamento compulsivo com tratamento a choques eléctricos e lobotomia por 50 anos sem qualquer reavaliação da situação do internado...
E então lembro-me que sou pelos direitos humanos e nem vale a pena perder muito tempo com estas maquinações que a vida encarrega-se de ensinar estas pessoas (eu ainda acredito nisso), que têm de viver com a sua consciência e que em algum momento a sentirão pesada e que nunca conseguem ser felizes porque são ocas e pobres de espírito... e isto é certamente o pior castigo.