segunda-feira, fevereiro 21, 2005

(da colecção harlequim)
Era Maio e o tempo estava finalmente a aquecer. Cheirava já a Primavera...
Ela revia mentalmente as últimas semanas... tudo acontecia tão depressa.
Lembrava-se da primeira vez que se viram. Ele olhava-a como se lhe dissesse que era bonita. Pelo menos era assim que se sentia quando estava com ele, embora o espelho lhe dissesse o contrário.
Não, não estava apaixonada e nem poderia. Não queria.
Lembrou-se do beijo e da conversa que se lhe seguiu uns dias depois.
-Desculpa.
-Porquê? Também terei de pedir desculpa? Não são precisos dois? Qual é o problema? Tu beijaste-me e eu retribuí... se foi boa ou má ideia, o tempo o dirá. O mal, se o houve, está feito e não vale a pena pensar nisso. Muito menos falar. Vamos acabar por dar demasiada importância a uma coisa que não a tem... ou não queremos que tenha.
Era isso que sentia. Era só um beijo e em nada iria interferir. A amizade mantinha-se. E nem valia a pena sonhar. Não era isso que queria neste momento.
Olhou para o relógio e sentiu um frio no estômago.
Porra.
Se não importava porque é que ficava assim? Afinal era só um lanche rápido, um olá e adeus.
E já só faltava meia hora... até começava já a sentir fome... nem almoçara com o nervoso miudinho.
Caramba, tinham-se visto dezenas de vezes nos últimos meses e agora é que lhe dava para aquilo. É só mais uma vez.
Soaram as cinco e ela lá foi.
Esperava-a aquele sorisso que a desconcertava. O sorriso que apetece acompanhar e aquece o coração.
"Somos amigos, só isso.", pensava ela enquanto o cumprimentava.
Conversaram e riram.
Tomaram chá gelado mas ela não foi capaz de comer nada. Estava praticamente em jejum... mas aquele formigueiro na boca do estômago...
Vou embora, já te macei o suficiente... e tenho mesmo de ir.
Despediram-se e enquanto se encaminhava para o elevador ele segurou-lhe o braço.
Ela olhou-o e não foi capaz de resistir.
Beijaram-se novamente e sem se largarem voltaram a entrar em casa e bateram a porta.
Calmamente e sem pressas nem ansiedade despiram-se um ao outro e cairam na cama.
Depois, com a magia e a timidez próprias de dois corpos que se encontram pela primeira vez fizeram amor.
Ele sorriu-lhe no fim, com aquele sorriso que a fazia esquecer de tudo e sorrir também.
E durante um tempo não disseram nada. Olhavam-se simplesmente. Tentavam perceber o que tinha acabado de acontecer.
A janela estava aberta e ouviam-se os carros lá fora... o corropio típico de uma sexta-feira. E entrava o cheiro a Primavera.
Ficaram assim, abraçados, por muito tempo.
Foi ele o primeiro a romper o silêncio.
- Sabes... estou apaixonado...
-Sim? E quem é ela?
Ele abraçou-a com mais força.
-Agora é que é... tenho mesmo de me ir embora.
- Fica. Só hoje, fica. Como disseste no outro dia, se foi boa ou má ideia, o tempo dirá. O mal está feito... Perdido por cem perdido por mil. Amanhã vais acordar e perceber que fizémos mal. Talvez nem queiras ver-me mais. Vamos aproveitar hoje então. Desmarca tudo que eu faço o mesmo. Fiquemos aqui... assim. Encomendamos o jantar para não termos sequer de sair. E amamo-nos. Só hoje. Por favor fica!