terça-feira, novembro 08, 2005

Andamos enganadas!

Pois é, meu querido diário! Enganadinha da silva! Eu e todas as outras que sofrem em silêncio como eu, que desde pequeninas nos enfiam nos cérebros ainda em desenvolvimento que quem se obriga a amar obriga-se a padecer e depois é isto... padecemos a vida toda e para nada! Nadinha mesmo que afinal não é o homem que se quer feio e a cheirar a cavalo mas sim a mulher que se quer au naturel, sem maquilhagem e de preferência sem qualquer dignidade.
Pois é verdade, é disto que eles gostam! Oh lá se gostam! E amam-nos mais ainda se não padecermos absolutamente nada!

E assim se vão anos e anos de torturas várias, rios de dinheiro em cremes para celulite, olheiras, estrias, peito descaído e micoses dos dedos dos pés, maquilhagem para disfarçar olheiras que não desaparecem com os cremes caros mais as borbulhas e o pano, branqueamentos dolorosos nos dentistas, problemas crónicos graves na coluna e distenções nos gémeos à custa de um equilíbrio precário em cima de uns saltos agulha, escoriações e cicatrizes várias após furiosa luta com ceras, giletes e cremes depilatórios (e que depois se disfarçam com os ditos cremes absolutamente ineficazes apesar dos preços obscenos), ginásios cheios de espelhos e balanças e humilhações diversas, risco sério de morte por asfixia em consequência de wonderbra demadasiado pequeno para realçar melhor o busto (ou pior! risco sério de ser presa por atentado ao pudor ou mesmo enfrentar um processo crime por tentativa de homicídio ou ofensas à integridade física graves se uma delas salta da minúscula caixa ultra-almofadada) ... ufff... porque afinal de contas suas excelências os machos acham muito mais piada a carinhas lavadas de ténis e roupa desportiva... e se possível que suem muito...

Era o que me dizia o meu amigo Bonifácio no outro dia a propósito de um gordo de olhos verdes que encontrei no último sítio imaginável, o sítio onde perco o pouco que resta da minha dignidade: a horta!

Dizia-me ele: se ele cava batatas, deve apreciar o teu esforço, a terra na tua cara, as unhas sujas e a roupa velha que usas... nem ele está à espera que vás para lá arranjada e maquilhada e de saltos altos...

E chegou a minha vez de perguntar: quem é que os compreende?