domingo, dezembro 18, 2005

Querido Diário, estou triste!

Para se ser cabeleireira não basta saber cortar o cabelo. Aliás, tal capacidade é até secundária e meramente acessória.
Não.
Para ser cabeleireira é necessário ter características especiais e é por isso que cedo me apercebi que esta não seria a minha vocação.
Para se ser cabeleireira é preciso:
a) Não preceber português ou
b) Ser semi-autista e ter como reacção imediata uma paragem cerebral à palavra "cortar".
c) Quem não preenche uma das duas supra referidas características, poderá chegar ao aludido autismo através da hipnose.
90% das nossas cabeleireiras enquadra-se na categoria b), seja de forma natural, seja por métodos induzidos.
O certo é que a partir da palavra "cortar", na frase "queria cortar o cabelo se faz favor", o cérebro para-se-lhes, ficam cegas, surdas e perdem todo o contacto com a realidade. A única coisa em que pensam é em cortar e ai de quem tiver a pouca sorte de lhes cair nas mãos ávidas de dar uso à tesoura ou à navalha. E o resultado é o que se vê...
"Não quero que mexa no comprimento"
"Não menina, estou só a aparar as pontas espigadas. Nem vai notar!"
E nós, que assistimos com terror àquela verdadeira chacina, ainda tentamos chamá-las à razão, "veja lá não me deixe careca... está a cortar muito que eu estou a ver e eu sei que as minhas pontas não estão espigadas até às raízes!", mas já é tarde porque a dita cuja já engatilhou naquele transe e nada a fará sair de lá. E diz-nos, com um punhado de cabelos com dez centímetros de comprimento, que não há nada a recear.
E no fim, terminado o ritual, voltam a si sabe-se lá como ou porquê e pegam no espelho para nos mostrar a obra de arte e saber a nossa opinião (como se ainda fôssemos a tempo de remediar alguma coisa) e com um sorriso inocente dizem "Tá a ver como está igual?", enquanto nós, de lágrimas nos olhos e um nó no estômago, apreciamos o capacete que temos agora em lugar de cabelo ao mesmo tempo que nos perguntamos como é possível que aquela criatura não repare que nos deixou completamente carecas e por que raio me lembrei eu de vir cortar o cabelo se estava tão satisfeita com ele... e pedimos a Deus que nos mantenha sempre lúcidas o suficiente para não voltarmos a cair na mesma esparrela... até à próxima.