segunda-feira, maio 29, 2006

Estou mortinha por chegar aos 65 anos,

poder dormir até me doer o corpo mas acordar às 7 da manhã e andar a passear pela cidade, de autocarro em autocarro, em hora de ponta só para poder chatear quem realmente precisa de andar em transportes públicos de madrugada, e alapar com toda a legitimidade num daqueles bancos logo à entrada enquanto uma jovem rapariga de saltos agulha e cara de quem está a sofrer de problemas digestivos, cordialmente me cede o seu lugar.
Claro que com a minha sorte, quando chegar aos 65 anos:
a) já ninguém dá prioridade a velhos porque as minhas preces foram ouvidas e ao lado da boneca grávida, do boneco de cadeira de rodas e da boneca com a criança ao colo figura também uma boneca de saltos altos;
b) já não há autocarros;
c) eu não vou andar de autocarro.
Mas seja como for, serei uma velha como os de hoje e só tenho pena que eles já estejam todos mortos porque assim a minha vingança perderá todo o seu efeito.
E também eu andarei em hora de ponta a chatear as pessoas, também eu me deitarei com as galinhas para poder reclamar com o meu vizinho de cima, e sobretudo, também eu me sentarei o dia todo numa qualquer esplanada ao lado de um qualquer escritório, só para fazer inveja a quem trabalha e por ali tem de passar... isto só até às 7/8 da noite, altura em que entrarei novamente num autocarro apinhado de gente que passou o dia todo o trabalhar e poder, mais uma vez, tirar o lugar à menina dos saltos agulha que agora já vem com a cara esverdeada, mas eu quero lá saber que ela é nova e tem de certeza mais saúde que eu!
Cabrões dos velhos, seres vis e mesquinhos!