quarta-feira, dezembro 21, 2005

I'm driving home for Christmas

Não vou plagiar a Rabiga.
Fica só mesmo a música que estava prometida para o dia da partida.
Pois é, querido diário, quando voltar a escrever-te talvez já tenhas um aninho!
E que belo aninho, hã?
Mas o que importa agora é a viaje!
Ora bem, já deixei o pexito temperado, a cebola cortadinha e o azeite no tacho, com a folhinha de louro e o tomate.
O arroz está medido, a alface no alguidar com amukina para ser bem lavadinha e o garrafão já está à porta.
Agora arrumo o saquito (levo uns quantos do Continente atados uns aos outros para que não se percam) e as malas estão já dentro do carro de praça que me há-de vir buscar às 7 da matina para levar à carreira das oito.
Levanto-me por essas 5h30 para fritar os bichos e fazer o arroz.
Dou uma banhoca que em dia de viaje há que estar bem cheirosa e o Natal é já daqui por uns dias.
Às sete menos dez saio de casa, esperarei pacientemente o carro de praça e lá me meterei eu a caminho de Retretes do Meio para passar um Santo e Feliz Natal com os meus entes queridos.
Levo os doze pares de peúgos para oferecer aos homens da família e as cuecas cor-de-rosa (diz que dá sorte) para as mulheres. Para as mais velhas comprei uns lencinhos de assoar que é coisa muito chique porque rara. Para os mais pequenos levo trousses azul cueca para estrear no Ano Novo. Dizia-me a Albertina no outro dia que o dela agora só quer bocseres (que raio de nome!), mas eu gosto pouco dessas modernices e acho poucos jeitos que andem com aquilo ao badalo. Qual quê! É tudo aconchegadinho mesmo não vão as crianças apanhar um resfriado na dita que diz que custa a curar e ainda ficam estéreis e sem poder ter meninos.
A viaje corre sempre bem e eu até gosto destes dias de excitação.
A carreira sai daqui às oito horas.
Lá pelas dez fazemos um transbordo, logo depois da serra, porque já há vários tipos de vómito pela camioneta a passear para a frente e para trás e até já o mototrista está nauseado.
Ao meio dia, já na nova chocolateira, paramos à beira da estrada, naqueles sítios com uns telefones alaranjados, para merendar. Eu aproveito sempre para ligar à Luzia a dizer-lhe que tudo corre bem, mas a telefonista não sabe quem é a Luzia e ainda grita comigo que não posso usar aquele aparelho. Se não posso, por que raio estão ali???
A viaje prossegue, com mais uma paragem para merendar por volta das 4 da tarde, mas desta vez já na nacional 784, onde não há telefones para grande pena minha que nem posso pedir ao Genovevo que me reserve uma broa para a consoada e a mise na Miquelina na véspera de Natal.
Por volta das oito da noite chego à estação de camionagem de Retretes do Meio onde me espera a família toda. Pego nos meus sacos, distribuo beijos e abraços e lá vamos nós comer o resto do lanche que trouxe, mais um franguito que compramos na churrascaria e ali ficamos a noite toda a pôr a conversa em dia: quem casou, quem morreu, quem encornou o filho da vizinha do rés-do-chão, com quem anda agora a filha da D. Lurdes merceeira e o que aconteceu no último baile da sociedade recreativa. Em alturas boas ainda há sempre novidades sobre o senhor prior e as suas governantas, mas agora o homem está velho e só já tem duas e as afilhadas também já vão rareando.
Ai como é bom voltar a casa.
Adenda: O File Lodge não está a funcionar e por isso não posso pôr a música da viaje. Buááááá!