Eu bem digo que não me sinto com a minha idade mas ninguém acredita em mim...
Chamo cota ao cavador #2 , mais velho que eu meia dúzia de meses, e ele acha que não tenho a menor legitimidade para o fazer. Mas mal sabe ele que estou a anos luz dos vinte e tantos que temos.
Por um lado fico satisfeita porque a criança que existe em mim, e é bem maior que a adulta, tem orgulho na sua integridade e coerência, na honestidade e na verdade que pautam o seu comportamento, na impulsividade e na paixão com que defende o que acha correcto. E na mania que tem de que ainda vai conseguir mudar, não o mundo, mas o pequeno universo à sua volta.
Mas afinal de contas não são os principios que enchem a barriga e ser adulto é ao fim e ao cabo ser cínico, sorrir muito, pôr vaselina no cuzinho para que a coisa entre melhor e sem ferir o violador e agradecer no final. Agradecer muito e muito e muito e pedir por favor repete lá que desta ainda não sangrou. E sempre que quiseres estarei aqui à disposição, com ele bem levantadinho para que me possas foder mais e com mais força e eu vou continuar a sorrir e a agradecer e a pedir desculpa sempre que uma mosca insistir em perturbar a tua concentração.
E nem te preocupes que só vou dizer mal de ti nas tuas costas. E talvez faça desenhos da tua cara de porco com merda a sair-te pelas narinas. E talvez me divirta a desejar-te a morte mais dolorosa que o meu pequenino cérebro conseguir imaginar. Mas tu, meu grande cabrão, de mim só vais ver sorrisinhos e agradecimentos e elogios a esse intelecto de galinha porque é isto que é ser adulto e eu já pertenço ao mundo dos crescidos.
E a mim que ainda me confunde tudo isto, invade-me um grande choque: apesar dos meus quase 30 anos, apesar de sofrer os horrores que sofro nas inquirições dos casamentos dos meus amigos, apesar de ser independente, sou ainda uma criança. Tão criança, tão pequenina, que deveria ser imediatamente interditada e posta num jardim infantil.