Mas hoje foi mesmo por me ter esquecido de beber o meu cházinho da Lipton que não faz mal nenhum mas ao que parece causa habituação.
E ando para aqui às voltas a pensar na minha sorte. Afinal de que me queixo eu? Desempregada e portanto com o dia todo por minha conta para andar a fazer vida de dondoca com o dinheiro que não tenho.
Sem futuro ou sequer perspectivas de ter um seja em que plano for o que dá uma sensação de liberdade bestial! Para que me hei-de preocupar com a compra de um carro ou de uma casa, como a maioria dos pobres desgaraçados da minha idade que vivem atolados em prestações?
E sempre poupo tempo e enrgias a planear férias que eu cá sempre gostei das pousadas da juventude e até nem seria má ideia pedir emprestada ao Teodomiro a tenda para meia pessoa que ele comprou no ano passado na promoção do Continente que sempre é mais saudável e radical! Eu lá quero ir para o Brasil, valha-me nossossinhor! Para isso ligo o GNT e ponho-me aqui de fato de banho e aquecedor coladinho aos tornozelos!
E viver da caridade alheia sempre me soube muito bem que depender dos outros para sustentar os meus vícios foi sempre o meu sonho e é de resto o de qualquer rapariga minimamente inteligente.
Afinal de contas esta história de tirar um curso, de fazer uma pós-graduação e de andar a inventar mais merdas para encher o curriculum foi só uma desculpa para poder andar mais uns anos a emborrachar-me e fazer de conta que até sou esperta e assim.
Pobres daqueles que recebem pelo seu trabalho porque a eles sai-lhes do corpo e eu que durante dois anos e tal trabalhei que nem uma moura para aquecer, que aqui em Alguidares faz frio comóraio, ainda tenho a lata de me queixar por levar um chuto no cú sem qualquer pudor. E tenho mais é que dar graças a Deus porque pelo menos estive ocupada! Ohlaró!
Mas isto a gente tem que se queixar sempre que nunca estamos satisfeitos com o que temos e eu que tenho a ousadia de sonhar com um muito obrigado que teima em não chegar, devia arder nas chamas do inferno por toda a eternidade!
Meu Deus perdoa-me a minha ingratidão e dá-me a lucidez suficiente para saber sempre apreciar o que tenho e a humildade de pedir pelos pobres irmãos que de alguma forma vêem o seu trabalho reconhecido e são assim obrigados a trocar de carro, a casar e a planear férias na neve.