domingo, julho 02, 2006

Ora vamoláver- nem tudo o que parece é

E o mesmo se passa com abismos.
Não basta que pareça um abismo. Nããããããããããããã.
Para que a menina aqui se atire de cabeça e sem pára-quedas é preciso que o que parece ser um abismo o seja de facto.
Assim, o primeiro passo é sem dúvida saber reconhecer um abismo.
Não que seja muito complicado porque o abismo verdadeiro revela-se imediatamente.
É uma energia, dizem uns.
Química, contam outros.
O que é não sei mas sei logo no primeiro encontro, ou no máximo na primeira queca, se estou ou não perante um verdadeiro e enorme abismo, aquele que vai estupidificar-me, o responsável pela minha relação esquizóide com o meu telemóvel, computador e todos os meios de comunicação ao dispor (estivéssemos nós ainda no tempo do pombo-correio e desataria eu aos tiros a tudo quanto voasse)
Sucede porém que, como tudo na vida, esta história dos abismos tem vários graus e uma pessoa às vezes pode enganar-se.
Ora bem, um colega de trabalho pode ser, em abstracto, um abismo e dos grandes. Pode. Mas nem sempre é.
E o primeiro sinal é desde logo a cor do carro que conduz. Não há na verdade grande diferença entre alguém que abre a boca para sair de lá um voz igual à do Ricardo, actual herói nacional até à próxima quarta-feira, e alguém que conduz um carro branco. Logo aí uma pessoa desconfia.
Tu queres ver que este abismo só tem dois metros?
As desconfianças começam a ganhar forma quando a criatura, que vem da Amadora (outro sinal embora não muito revelador), nos saúda com um "ois" e concorda com as nossas sugestões com um "óki" dito assim mesmo, a seco e sem cerimónia.
E o abismo afinal só tem um metro de profundidade e por esta altura talvez já não interesse tanto.
A coisa complica-se (ou a desconfiança torna-se certeza) quando, não obstante as nossas vãs tentativas de ensurdecer quando a criatura fala, conseguimos ouvir a pérola que nos arrepia até os pelotes mais pequeninos do fim das costas: O auto-estrada. O. Artigo definido masculino. O!!!
É então que a menina respira fundo, repara que tal como no deserto estava apenas com uma miragem e parte à procura de um verdadeiro abismo, daqueles que nos tiram o sono e o apetite e a lucidez e fazem esquecer as promessas feitas após abismo anterior e lá nos atiramos nós outra vez e caga lá no pára-quedas que a piada disto são mesmo os traumatismos cranioencefálicos.
Abismos, abismos, onde estoides?