quarta-feira, novembro 01, 2006

Querido Diário

Estou a ficar assustada comigo.
Estive esta tarde a ver um filmezinho romântico e não só não me comovi como ainda achei um perfeito disparate o protagonista abdicar da sua brilhante carreira profissional para ficar com a namorada da faculdade, ela própria com uma grande carreira, tudo isto depois de ter tido a possibilidade de (vi)ver a vida de merda que teria tido se, em vez de ir para Londres fazer não sei quê que lhe mudou a vida, tivesse casado com a dita cuja.
Sei que havia ali uma mensagenzinha escondida, estilo: o amor é muito mais importante que tudo o resto. Soube-o desde o primeiro instante.
E eu, mecita esperançosa que sou, aguentei o filme inteiro à espera de perceber isso mesmo. À espera do clique que me fizesse sair para a rua à procura do meu próximo príncipe encantado, e mandar os livros todos às urtigas.
Os livros, os recibos verdes, a sapiência... tudo! Até mesmo os abismos!
Mas para meu grande susto e desconsolo népia.
Hora e meia de concentração extrema e cheguei ao fim a dizer "BURROOOOOOO! QUE ESTÁS A FAZER????? OLHA A REUNIÃO!!!"
Não consegui alcançar a treta do amor e uma cabana, um filhozinho que nem fala mas já enche a casa, a alegria de ver a mesma cara todas as manhãs...
Só me vinha uma palavra à cabeça: comodismo.
É tão confortável ter sempre a mesma rotina, a mesma pessoa à nossa espera à noite, a mesma vida de todos os dias, sem abismos e sem sobressaltos...
Comodismo! Puro e duro!
E não é que o otário deixou mesmo a reunião e lá vai, todo ele todo doido, a caminho do aeroporto atrás da outra?
Ou seja, não só estraga a sua propra vida como ainda tem a insolência de estragar a da outra que era agora uma advogada de sucesso, com um bruto ordenado e não uma advogada de suburbio, a viver de oficiosas, porém feliz e apaixonada.
Conclusão a que cheguei? O amor só serve para estragar a vida às pessoas!
E isto assusta-me.
Terei ainda salvação?
Apesar de estar lá quase, ainda não tenho 30 anos e parece-me demasiado cedo para semelhante descrença...
Será só uma fase, assim estilo puberdade, que passa com o tempo?